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Aedes aegypti: o mosquito mais temido da atualidade

Figura 1 – Aedes aegypti com o desenho em forma de lira no tórax (Seta). |Fotografia: Paul Howell e Frank Hadley Collins (Fonte: Zettel & Kaufman, 2017). 

Por: Carolina Poluceno Silva, Leonardo Pisseta Gorges e Carlos José de Carvalho Pinto

  
O verão está chegando. Sol, calor, praia, férias e... MOSQUITOS! As altas temperaturas e chuvas constantes propiciam condições ideais para a proliferação desses insetos – que são bastante irritantes, não é mesmo? Porém, apesar de ser um incômodo, a maioria deles não é nocivo à nossa saúde.

No entanto, nos últimos anos, uma espécie de mosquito se tornou bastante famosa e ganhou espaço nas mídias televisiva e digital e, infelizmente, essa fama não se deu por um bom motivo. Esse mosquito é transmissor de diversas doenças e vem causando sérios problemas para a saúde da população brasileira. Muitos o chamam de “mosquito da dengue”, mas seu nome específico é Aedes aegypti. Esses nomes populares são utilizados para identificar esse mosquito justamente por ele transmitir as doenças que conhecemos por: dengue, zika e chikungunya (esse nome é difícil mesmo...). Além dessas três doenças, esse inseto minúsculo também é capaz de transmitir a febre amarela em algumas cidades do Brasil.

➢     Características e hábitos de vida do Aedes aegypti

Então, se existem muitas espécies diferentes de mosquito, como podemos identificar o Aedes aegypti? É relativamente simples. Esse mosquito, em particular, pode ser identificado por apresentar um desenho em forma de um instrumento musical chamado de lira (Figura 1) formado por escamas brancas na parte de cima de seu tórax (região logo atrás de sua cabeça)¹. Ele tem coloração escura e também apresenta pintinhas brancas em suas pernas.
O Aedes aegypti é uma espécie sinantrópica, isso quer dizer que ele é adaptado a viver junto com os humanos nas cidades, sendo encontrado principalmente nas casas das pessoas.

Um fato interessante sobre todos os mosquitos, inclusive o mosquito da dengue, é que só as fêmeas transmitem doenças, pois só elas picam, já que necessitam de sangue para auxiliar no desenvolvimento dos seus ovos. No caso do Aedes aegypti as fêmeas preferem sugar sangue de humanos².

Uma vez bem alimentadas, as fêmeas do mosquito buscam o local ideal para depositar os ovos, os chamados criadouros. Por ser uma espécie urbanizada que vive próxima às casas das pessoas, o Aedes aegypti busca principalmente por criadouros artificiais, que são aqueles gerados por resíduos ou objetos humanos, como pneus, garrafas, copos, latas, pratinhos de plantas, caixas d’água, piscinas, aquários, entre outros. Ao encontrarem o local ideal, as fêmeas depositam os ovos nas paredes de objetos que podem se encher de água quando chover. Você sabia que depois de depositados, ovos do mosquito tem uma capacidade muito grande de resistir a períodos de seca, podendo sobreviver nas paredes dos recipientes sem água por vários meses²?

Em condições favoráveis, ou seja, quando o recipiente se enche de água, esses ovos eclodem e nascem as larvas (Figura 2), que permanecem no ambiente aquático e se desenvolvem até tornarem-se mosquitos adultos, saindo da água prontos para voar em busca alimento.

Figura 2 – Larvas de Aedes aegypti na água. Fotografia: Genilton Vieira/IOC (Fonte: http://www.ioc.fiocruz.br/dengue/textos/oportunista.html).


As larvas demoram cerca de 10 dias para se transformarem em adultas¹. O ciclo de vida desse mosquito envolve as seguintes fases: ovo, larva, pupa e adulto (Figura 3). Para conhecer melhor as fases de vida do mosquito, assista a esse vídeo: ciclo de vida do Aedes aegypti.


Figura 3 – Ciclo de desenvolvimento de Aedes aegypti. |
 (Fonte: https://www.cdc.gov/dengue/entomologyecology/m_lifecycle.html - modificado).

➢     História do Aedes aegypti: de onde ele veio?

Esse mosquito, que hoje podemos encontrar em diversas regiões do mundo, principalmente nas áreas tropicais e subtropicais, é originário do continente Africano¹,². Além disso, o Aedes aegypti não era uma espécie domesticada, mas sim de floresta. Porém, com o tempo, conseguiu se adaptar (e muito bem!) aos ambientes urbanizados³.

A dispersão do mosquito pelo mundo se iniciou junto com as navegações europeias e com o tráfico de populações humanas africanas escravizadas. Acredita-se que as fêmeas tenham depositado seus ovos dentro desses navios e estes (que resistem à períodos de seca, lembra?) chegaram a vários lugares do mundo, o que inclui o Brasil ²,.

Em nosso país, no final do século XIX, o mosquito se dispersou por todo território, vindo a ser erradicado com o uso de um potente inseticida conhecido por DDT no ano de 1955. Porém, doze anos depois, o mosquito foi reintroduzido no Brasil, sendo novamente erradicado em 1973. Quando tudo parecia bem, o mosquito foi reintroduzido no ano de 1976 e permanece até os dias de hoje em nosso país. Essa última reintrodução ocorreu devido ao rápido processo de urbanização e à baixa eficiência no controle do mosquito ⁶,⁷.

➢     Conhecendo a origem das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti

Dengue: é uma arbovirose (doença causada por vírus e transmitida por insetos) que tem seu nome originado do espanhol, significando “manha”, “melindre”, pois as pessoas com a doença costumam apresentar um estado de moleza ou cansaço. A dengue, devido as constantes epidemias registradas no mundo, é uma das doenças mais importantes da atualidade. Entre 1990 e 2016, foram registrados 12 milhões de casos no Brasil, que é um dos países com o maior número de casos de dengue no mundo!

Zika: o vírus causador dessa arbovirose foi descoberto no ano de 1947, na Uganda, quando foi isolado de um macaco do gênero Rhesus (o mesmo do sistema Rh sanguíneo). A doença recebeu o nome da floresta na qual foi encontrado o vírus, a floresta Zika¹°. Antes de 2017, somente 14 casos de Zika tinham sido bem documentados, embora que muitos casos devem ter ocorrido, mas não foram relatados na literatura, pois os sintomas de Zika são muito similares a outras doenças virais. A infecção por Zica durante a gestação pode causar má-formação no feto como a microcefalia que é uma diminuição do tamanho da cabeça da criança e geralmente é acompanhada de um retardo mental. Além de ser transmitido por mosquitos e da mãe para o feto durante a gestação, o vírus da Zica pode ser transmitido durante o ato sexual e, possivelmente, por transfusão de sangue.

Chikungunya: é uma arbovirose que tem origem na África e na Ásia. Foi descrita pela primeira vez em 1953, em uma localidade onde atualmente se encontra a Tanzânia. Seu nome tem origem em uma palavra dos povoados que habitam a região onde foi descrito e significa “aqueles que se dobram”. Isso porque um dos sintomas da doença são as fortes dores nas articulações, que fazem com que as pessoas fiquem com a aparência “curvada”.

Febre amarela: essa doença já é bastante antiga. Há relatos de febre amarela no século XV. No Brasil, o primeiro caso de febre amarela ocorreu no ano de 1685, em Pernambuco. A doença recebe esse nome por causar febre e deixar o doente com icterícia (ou seja, com os olhos e a pele amarelados)¹⁴.

➢     O que fazer para evitar a proliferação do Aedes aegypti?

Seria horrível deixar de aproveitar as férias por causa de febre e mal estar, não seria? A dengue é uma doença causada por 04 tipos de vírus que são transmitidos pela picada do Aedes aegypti. No começo da infecção, os sintomas são bastante parecidos com os sintomas da gripe comum. Então, como fazer para diferenciar as duas doenças na hora de procurar um médico?

É preciso estar atento: O primeiro sinal da doença é a febre alta que pode durar até dois dias. E ela não vem sozinha. Essa febre pode estar acompanhada por dores fortes nos músculos, nas articulações e atrás dos olhos. Ela também pode vir acompanhada por aquelas feridas vermelhas na pele que causam coceira; ou ainda de mal estar e vômito.

A doença é mais comum nos meses de verão, por causa do calor e das chuvas frequentes. A água das chuvas se acumula em recipientes, formando condições perfeitas para o Aedes aegypti. Sabe aquela garrafinha de plástico jogada no chão? Ela pode se tornar o berço ideal para que a fêmea do mosquito coloque até 200 ovos. Todos podem contribuir para que o problema não fique cada vez pior colocando areia nos pratos das plantas, jogando o lixo no lugar correto, colocando tela nos ralos, mantendo as caixas d'água fechadas e cuidando para não deixar água acumulada em outros objetos.

Evitar a proliferação é a maneira mais eficaz para combater o mosquito. No Brasil, as prefeituras têm profissionais que percorrem as ruas das cidades para verificar se existem possíveis criadouros nas casas, comércios, terrenos baldios, etc., e informam a população sobre a importância de não deixar objetos que acumulem água a céu aberto.

O controle efetivo do mosquito ocorre eliminando os possíveis criadouros, impedindo que as fêmeas coloquem os ovos e que novos mosquitos nasçam. Porém, é impossível que a prefeitura de qualquer cidade faça este trabalho sozinha. É importante que todas as pessoas ajudem, não deixando objetos que possam acumular água em suas casas, seus terrenos, sua escola, local de trabalho e no seu bairro. O combate ao mosquito é um dever de todos nós.

Referências:

¹ MARCONDES, C.B. Entomologia Médica e Veterinária. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2011. 526 p.

² CONSOLI, R.A.G.B.; OLIVEIRA, R.L. Principais Mosquitos de Importância Sanitária no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 1994. 228 p.

³ CHRISTOPHERS, S.R. Aedes aegypti (L.) The Yellow Fever Mosquito: Its Life History, Bionomics and Structure. 1ª ed. Cambridge: University Press, 1960. 752 p.

⁵ POWELL, J.R.; TABACHNICK, W.J. History of domestication and spread of Aedes aegypti – A Review. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 108, supl. 1, p. 11-17, 2013.

⁶ FUNASA. Dengue Instruções para Pessoal de Combate ao Vetor: Manual de Normas Técnicas. Brasília: Ministério da Saúde: Fundação Nacional de Saúde, 2001. 84 p.

⁷ BRAGA, I.M.; VALLE, D. Aedes aegypti: History of Control in Brazil. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 16, n. 2, p. 113-118, 2007.

⁸ REZENDE, J.M. Notas Históricas e Fisiológicas Sobre a Palavra Dengue. Rev. de Patologia Tropical, v. 26, n.2, p. 375-380, 1997.

¹⁰ DICK G.W.A.; KITCHEN, S.F.; HADDOW, A.J. Zika Virus (I). Isolations and serological specificity. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v.46, n.5, p. 509-520, 1952.

¹² LUMSDEN, W.H.R. An Epidemic of Virus Disease in Southern Province, Tanganyika Territory, in 1952-53. Part II – General Description and Epidemiology. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene, v. 49, n. 1, p. 33-57, 1955.

¹⁴FRANCO, O. História da Febre Amarela no Brasil. Rio de Janeiro: Divisão de Cooperação e Divulgação, Departamento Nacional de Endemias Rurais, Ministério da Saúde. 1969. p. 208.



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