Está aí uma estratégia interessante de perpetuar o seu DNA para as próximas gerações, mesmo na ausência de parceiro sexual. Provavelmente o leitor saiba que abelhas podem fazer isso. Esse é o caso mais emblemático da denominada: partenogênese (do grego, significa nascimento de virgem), que seria a geração de uma prole sem fertilização e a partir de um único óvulo. Em abelhas, ovos fecundados (entende-se como aqueles onde ocorre o encontro dos gametas femininos e masculinos) tornam-se operárias ou novas rainhas, essas últimas se tornam diferentes das primeiras por receber uma nutrição diferenciada conhecida, popularmente, por geleia real. Por outro lado, os ovos não fecundados tornam-se, por partenogênese, zangões haploides (metade do genoma) somente. Ah, e tem gente que não acredita em geração espontânea (vide link1 e link2)...Isso é tema para um outro debate, mas até é, de certo modo, uma “geração espontânea”!!!
A partenogênese é muito comum em plantas e invertebrados de uma maneira geral, mas, o que muita gente desconhece, é que em vertebrados também ocorre em quase todas as classes, somente não apresentando registros para os mamíferos.
Recentemente, no dia 16 de janeiro, uma novidade (link3) foi publicada no periódico científico Scientific Reports do grupo da Nature sobre partenogênese em tubarões. Nestes animais tal fato já é conhecido desde 2007 (link4) e sabe-se que pode gerar uma prole viável com expectativa de vida dentro do previsto (link5). A novidade desse recente estudo paira sobre o fato da fêmea de tubarão-zebra ter conseguido alternar do modo reprodutivo comum sexuado que vinha realizando para a partenogênese, assim que não teve mais acesso a um parceiro sexual. E isso se deu com apenas um único intervalo de época reprodutiva sem parir filhotes e, além disso, sua filha também foi capaz de se reproduzir, ao menos, partenogeneticamente. Assim, mãe e filha, com história reprodutiva diferente e vivendo no mesmo aquário puderam, independentemente, se reproduzir partenogeneticamente. Vale ressaltar que essa alternância entre reprodução sexuada e partenogenética era conhecida para uma espécie de raia (link6) e outra de cobra (link7).
Um ponto interessante, e que provavelmente deve ser testado nos “próximos capítulos” da ciência, é se a fêmea “escolhe” partenogênese ou não quando um macho volta a estar disponível ou, ainda, se existe partenogênese na presença de macho(s) reprodutivo(s).
Mas nem tudo são flores! É sabido que partenogênese diminui variabilidade genética, especialmente em alguns casos, onde a prole é praticamente um clone da mãe. A variabilidade genética é crucial para a manutenção da saúde do organismo, para combater uma variedade maior de patógenos, bem como estar mais apto para mudanças ambientais diversas. Em biologia falamos que quanto maior a variabilidade genética de uma população, maior é o fitness (não no sentido de aptidão física somente que, hoje em dia, é muito relacionada para a nossa espécie preocupada com a saúde; vide link8 e link9) dessa. Um exemplo relacionado à fitness é o caso dos leões (link10). Em muitas populações de leões que foram reduzidas em número e, mesmo que algumas tenham sido recuperadas, a diversidade genética é muito baixa e, como consequência, os machos apresentam alta taxa de anormalidades em seus espermatozoides e uma baixa taxa de produção, acarretando numa fertilidade bastante reduzida. Uma associação negativa entre baixa diversidade genética e resistência à patógenos é conhecida em muitas diferentes espécies animais.
Para os tubarões isso é extremamente perigoso, pois esses animais constituem um dos grupos de vertebrados com mais espécies ameaçadas de extinção do planeta, juntamente com os anfíbios (link11). Suas populações estão em grande colapso e uma baixa diversidade gênica poderia agravar ainda mais a recuperação delas (isso se a sobrepesca desenfreada der uma aliviada).
O artigo também relata que para animais que apresentam cromossomos sexuais cujas fêmeas são heterogaméticas (ZW) e machos são homogaméticos (ZZ), a partenogênese pode produzir tanto fêmeas quanto machos, que é o caso de aves e muitos répteis. Entretanto, no caso dos tubarões, que apresentam o mesmo sistema de cromossomos sexuas que nós (fêmeas XX e machos XY), a partenogênese só gerou fêmeas até então.
O conhecimento sobre o mecanismo da partenogênese ainda apresenta muitas lacunas, tanto em tubarões quanto em outro vertebrados, mas já sabe-se que existem variações incríveis em diversos níveis de organização (desde molecular quanto comportamental). Existem estudos em curso bem interessantes aqui no Brasil também, um deles envolveu a investigação desse mecanismo em lagartos (link12 e link13). Essa é mais uma área da ciência fascinante que mostra o quanto as populações animais podem se adaptar às novas condições e continuar evoluindo, mas muito ainda falta entender.
por Renato Hajenius Aché de Freitas
A partenogênese é muito comum em plantas e invertebrados de uma maneira geral, mas, o que muita gente desconhece, é que em vertebrados também ocorre em quase todas as classes, somente não apresentando registros para os mamíferos.
Recentemente, no dia 16 de janeiro, uma novidade (link3) foi publicada no periódico científico Scientific Reports do grupo da Nature sobre partenogênese em tubarões. Nestes animais tal fato já é conhecido desde 2007 (link4) e sabe-se que pode gerar uma prole viável com expectativa de vida dentro do previsto (link5). A novidade desse recente estudo paira sobre o fato da fêmea de tubarão-zebra ter conseguido alternar do modo reprodutivo comum sexuado que vinha realizando para a partenogênese, assim que não teve mais acesso a um parceiro sexual. E isso se deu com apenas um único intervalo de época reprodutiva sem parir filhotes e, além disso, sua filha também foi capaz de se reproduzir, ao menos, partenogeneticamente. Assim, mãe e filha, com história reprodutiva diferente e vivendo no mesmo aquário puderam, independentemente, se reproduzir partenogeneticamente. Vale ressaltar que essa alternância entre reprodução sexuada e partenogenética era conhecida para uma espécie de raia (link6) e outra de cobra (link7).
Um ponto interessante, e que provavelmente deve ser testado nos “próximos capítulos” da ciência, é se a fêmea “escolhe” partenogênese ou não quando um macho volta a estar disponível ou, ainda, se existe partenogênese na presença de macho(s) reprodutivo(s).
Mas nem tudo são flores! É sabido que partenogênese diminui variabilidade genética, especialmente em alguns casos, onde a prole é praticamente um clone da mãe. A variabilidade genética é crucial para a manutenção da saúde do organismo, para combater uma variedade maior de patógenos, bem como estar mais apto para mudanças ambientais diversas. Em biologia falamos que quanto maior a variabilidade genética de uma população, maior é o fitness (não no sentido de aptidão física somente que, hoje em dia, é muito relacionada para a nossa espécie preocupada com a saúde; vide link8 e link9) dessa. Um exemplo relacionado à fitness é o caso dos leões (link10). Em muitas populações de leões que foram reduzidas em número e, mesmo que algumas tenham sido recuperadas, a diversidade genética é muito baixa e, como consequência, os machos apresentam alta taxa de anormalidades em seus espermatozoides e uma baixa taxa de produção, acarretando numa fertilidade bastante reduzida. Uma associação negativa entre baixa diversidade genética e resistência à patógenos é conhecida em muitas diferentes espécies animais.
Para os tubarões isso é extremamente perigoso, pois esses animais constituem um dos grupos de vertebrados com mais espécies ameaçadas de extinção do planeta, juntamente com os anfíbios (link11). Suas populações estão em grande colapso e uma baixa diversidade gênica poderia agravar ainda mais a recuperação delas (isso se a sobrepesca desenfreada der uma aliviada).
O artigo também relata que para animais que apresentam cromossomos sexuais cujas fêmeas são heterogaméticas (ZW) e machos são homogaméticos (ZZ), a partenogênese pode produzir tanto fêmeas quanto machos, que é o caso de aves e muitos répteis. Entretanto, no caso dos tubarões, que apresentam o mesmo sistema de cromossomos sexuas que nós (fêmeas XX e machos XY), a partenogênese só gerou fêmeas até então.
O conhecimento sobre o mecanismo da partenogênese ainda apresenta muitas lacunas, tanto em tubarões quanto em outro vertebrados, mas já sabe-se que existem variações incríveis em diversos níveis de organização (desde molecular quanto comportamental). Existem estudos em curso bem interessantes aqui no Brasil também, um deles envolveu a investigação desse mecanismo em lagartos (link12 e link13). Essa é mais uma área da ciência fascinante que mostra o quanto as populações animais podem se adaptar às novas condições e continuar evoluindo, mas muito ainda falta entender.
por Renato Hajenius Aché de Freitas
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