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De onde vem o medo das serpentes?

Indiana Jones: O personagem ofidiofóbico mais conhecido do cinema.

O medo de serpentes, que é chamado de ofidiofobia, é um dos mais predominantes do mundo. E algumas teorias defendem que isto provavelmente ocorre por uma herança ancestral, de quando esses animais exibiam um risco real a nossa sobrevivência. Outra causa que pode ser citada para tentar explicar o medo, muitas vezes irracional, sobre serpentes são todas as lendas, mitos e preconceitos  que cercam elas. Sendo que nas principais culturas do mundo sempre há uma serpente envolvida na história. 


Uma das mitologias mais conhecidas acerca de serpentes é a cristã que neste trecho deixa claro a aversão por esses animais: “Por meio dele, o amaldiçoado réptil que tentou a nossa venerada mãe Eva, exerce um fascínio inelutável sobre as vítimas que deseja capturar” (SANTOS,1994, p. 139). 
Mas este medo não atinge unicamente os seres humanos. Diversos grupos de  primatas reagem com notável agilidade à presença de serpente. E foi isso que fez a antropóloga Lynne Isbell, da Universidade da Califórnia (UC),  estudar melhor a ofidiofobia.

A teoria da antropóloga deu início a uma parceria dela com neurocientistas, que decidiram testá-la em primatas. Dois macacos participaram do experimento na Universidade de Toyama, no Japão. Eles analisaram a atividade neuronal, a área do cérebro conhecida como pulvinar, que aparenta estar envolvida com a atenção visual. Foram instaladas microssondas nos animais, e em seguida eles foram postos em frente a uma tela de computador para visualizar fotos de serpentes. As células pulvinares mandavam fortes impulsos ao ver as imagens das serpentes, e esta foi a primeira evidência neurocientífica que suporta a teoria da antropóloga. Mas o que mais chocou os cientistas é que os macacos do experimento nunca tiveram contato com serpentes, portanto esta era a primeira vez que eles as viam. A ofidiofobia é a mais prevalente das fobias no mundo e isto comprova que existe uma memória genética para esse tipo medo.

Mas o medo que nós humanos sentimos pode ser diferente, isso porque não reagimos a instintos como os primatas mais basais. Podemos apontar que além de todas as informações citadas o medo que os humanos sentem vem principalmente da ignorância e falta de informações a respeito das serpentes. E quando essas informações são disponibilizadas pela mídia sobre os ofídios, normalmente, está relacionada a algum trauma que alguém sofreu ou algum acidente perigoso, sendo que isso pode gerar ofidiofobia na pessoa.


A Associação Psiquiátrica Americana  descreveu alguns sintomas de ofidiofobia que podem ser categorizados como  físicos, mentais ou emocionais, como: ansiedade incontrolável, sentir que é preciso fazer alguma coisa para evitar as serpentes, gritar, chorar ou ter  dificuldades para respirar, tremores ou abalos violentos quando encontram ou veem fotos/imagens de serpentes na TV. Além disso a pessoa ainda pode sentir-se ansiosa ou ter aumento na freqüência cardíaca quando levado para locais onde estes animais podem estar presentes
FIGURA 1 - JIBÓIA (Boa constrictor) Fonte: Jibóia Brasil


Como evitar acidentes ofídicos?

É de extrema importância usar o material de segurança correto tendo em vista que aproximadamente 50% dos acidentes ocorrem do tornozelo para baixo. Portanto, usar uma bota já pode evitar metade desses casos. Além disso, 20% dos casos ocorrem na região das mãos e dos antebraços, estes podem ser evitados usando luvas e uma jaqueta espessa. E cerca de 5% ocorrem nas regiões dos braços, coxa, tronco, ombros e cabeça, esses podendo ser evitados com atenção onde se deita ou ao manusear troncos, folhas secas, etc. 

Outras medidas de grande valia são:
  • Não introduzir as mãos em buracos ou tocas;
  • Não segurar a serpente pela cauda;
  • Não caçar serpentes;
  • Caso resida no campo, manter os arredores da casa limpa;
  • Evitar revirar montes de folhas; 

Apesar que as serpentes podem oferecer um grande perigo em um encontro direto, devemos proteger esse grupo de animais, pois elas possuem um grande papel ecológico, colaborando no controle de roedores e outros pequenos mamíferos. Além disso, elas também servem como principal fonte de alimento para outros organismos como a Cariama cristata (Seriema) e até a própria serpente Ophiophagus hannah (Cobra-real), que não ocorre no Brasil.

O melhor método, ainda, para evitar encontrar uma serpente é não ir a campo ou a lugares em que haja registro de ocorrência desses animais. Porém, existe um número considerável de pessoas que trabalham, vivem e desfrutam dos prazeres do campo, sendo que essa dica não é muito útil para elas. Contudo, não há um método totalmente eficiente de garantir a impossibilidade de um acidente ofídico, mas existem medidas, que se tomadas, podem diminuir as chances de um encontro indesejável. 

FIGURA 2 - Jibóia arco-íris da Amazônia (Epicrates cenchria)  Fonte: Jibóia Brasil


Referências

FERREIRA, Hugo Fernandes, Crenças associadas a serpentes no estado do Ceará, Nordeste do Brasil. Disponivel em: <https://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/44709624/Crenas_Associadas_a_Serpentes_no_Estado_20160413-23773-93r7l1. df?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1520012385&Signature=mbNLUOemgoH6egLJ8KTBj4%2Ff%2F88%3D&response-content-disposition=inline%3B%20filename%3DCrencas_associadas_a_serpentes_no_estado.pdf>. Acesso em 02/03/2018

SANTOS, E. Anfíbios e Répteis. Rio de Janeiro: Villa Rica, 1994. 



Autoria: Equipe do PET Biologia da FURB
(Esse foi o primeiro texto de divulgação publicado em parceria com o pessoal da biologia da FURB, mais textos interessantes virão e estamos muito agradecidos de contar com essa ajuda para dispersar mais conhecimento científico!)

Comentários

  1. Parabéns aos jovens universitários pelo estudo ora apresentado. Aguardamos muitos outros.

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