Pular para o conteúdo principal

Pegadas de Laetoli: um passo na evolução humana


Texto por: Eduarda Muccini, Maysa Almeida e Gabriela Oms



    O que é evolução humana? Evolução nada mais é do que um processo lento de alterações físicas e comportamentais, ou seja, os organismos partem um ser mais simples que ao passar do tempo sofre modificações. Processos esses, que todos os seres vivos passam, desde nós seres humanos até as plantas. Porém, existe um pensamento acerca desse tema que muitas vezes gera mais questionamentos as pessoas que pouco conhecimento possuem nesta área. Quando você para e pensa sobre a evolução humana, que imagem vem a sua cabeça? A maioria das pessoas imagina aquela imagem que parte de um “macaco” quadrúpede que ao passar do tempo vai se erguendo até chegar em um humano ereto, com pouco pelo e bípede. Esse pensamento está completamente errado! 
Diagrama comumente usado, porém não é correto. Fonte: web.

    Hoje já é comprovado que algumas espécies de hominídeos coexistiram juntas, como Homo sapiens e Homo neanderthalensis, por exemplo. Diferente do que possa se pensar, não são meras teorias e, sim, registros comprovados a partir dos fósseis e evidências encontradas, tais como, ossadas, pegadas, artefatos utilizados, entre outros.
    Um registro datado em 3,6 milhões de anos em sítio paleontológico em Laetoli, localizado no norte da Tasmânia, evidencia pegadas de três indivíduos de portes diferentes que caminhavam lado a lado. Esse rastro ficou muito conhecido por ser o registro mais antigo de pegadas de hominídeos e aparentemente simbolizar um registro de família, porque, além de serem pegadas de tamanhos diferentes e muito próximas, as menores encontram-se justapostas com as maiores. Essas pegadas foram atribuídas ao Australopithecus afarensis devido a fósseis da espécie terem sido encontrados na mesma camada de sedimento e sua conservação foi possível devido a caminhada ter ocorrido, provavelmente, em cima de cinzas vulcânicas molhadas que acabaram por ser recobertas por camadas subsequente de cinzas provenientes de novas erupções.
Pegadas de Australopithecus afarensis, no sítio de Laetoli. Fonte: web.
    Esse registro apresentou novos fatores para o estudo da evolução humana e gerou várias controvérsias. Até então, o registro mais antigo e completo de ancestrais hominídios era atribuído a Lucy, uma Australopithecus afarensis que vivera há 3,2 milhões de anos. Além do registro de Laetoli ser, no mínimo, 400 mil anos mais antigo que Lucy, os estudos evidenciavam pegadas de indivíduos totalmente bípedes, sendo que Lucy era considerada bípede, no entanto, apresentava características ainda de vida arbórea, diferenciando-a do gênero Homo o qual já é desvinculado a esse hábito comportamental.
    Assim, as pegadas de Laetoli demonstraram que o andar semelhante ao homem moderno, um bipedalismo eficiente, poderia ter coexistido com o hábito de viver em árvores, ou seja, não houve uma transferência total de hábitos arbóreos para o de viver no chão como se acreditava.
    Este é um claro exemplo da importância da paleontologia! A partir dos registros fósseis, podemos conhecer não apenas dos nossos ancestrais próximos, mas o caminho evolutivo da vida. Estudar esse material, com abordagem molecular e morfológica por exemplo, nos permite não apenas elaborar como era a biodiversidade de tempos passados e conhecer espécies hoje extintas, mas também proporciona o conhecimento da ancestralidade e da taxonomia das mais diversas forma de vida. Sendo assim, a paleontologia é de extrema importância para fundamentar os estudos da evolução.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A megafauna brasileira do Pleistoceno

Texto por: Geisel Oliveira e Luciana Ingrid Farias     Na época geológica chamada de Pleistoceno, viviam aqui no Brasil, um conjunto de animais de grande porte (mais de 44kg), que hoje são denominamos de megafauna do Pleistoceno. Essa época durou aproximadamente de 2,5 milhões de anos até 11 mil anos atrás e foi marcada por uma grande instabilidade climática.  Por milhões de anos, as faunas da América do Sul e da América do Norte tiveram caminhos evolutivos independentes até que, há aproximadamente 3 milhões de anos, ocorreu a formação do istmo do Panamá. Este evento possibilitou a imigração de espécies entre as Américas do Sul e do Norte. Chamamos este marco de O Grande Intercâmbio Americano (Figura 2) e é essa fauna já “misturada” que viveu aqui no Pleistoceno. Figura 1 . Representação da Megafauna de mamíferos do Pleistoceno. Preguiça gigante Eremotherium laurillardi (A); Tigre dente de Sabre Smilodon populator (B); Urso Arcthotherium wingei (C); Seme...

"A Era do Gelo" sob o olhar de um paleontólogo

Texto por:  Sophia Cassol, Thais Macedo e Vivian Fragoso     A “Era do Gelo” é uma animação fictícia, no entanto inspirada na realidade. Muitas crianças (e até adultos) talvez não saibam que um dia a Terra já foi como mostra o filme. Na verdade, a Terra passou por muitos momentos em que estava bastante coberta por gelo. Períodos longos com temperatura média baixa são conhecidos como glaciações. Ao longo da história geológica quatro glaciações foram registradas: Glaciações Paleoproterozóicas (2,3 bilhões de anos), Glaciações Neoproterozóicas (cerca de 700 milhões de anos), Glaciações Paleozóicas (400 a 200 milhões de anos) e Glaciações Quaternárias (2,5 milhões a 10.000 anos), da qual faz parte a glaciação do final do Pleistoceno.     A Era do Gelo, ou glaciação do final do Pleistoceno, foi a última glaciação da Terra. Nesta época, grupos de animais atuais já existiam, incluindo os humanos. Os protagonistas da “Era do Gelo” fazem parte de grupos bastante ...

Tucano-toco, pra que um bico tão grande?

Por : Gabriela Vilvert Vansuita e Lucas Takinami Amaral Sato                         Autor desconhecido                                  Em dias muito quentes, nós, humanos, transpiramos, ficamos ofegantes e eventualmente procuramos uma sombra para descansar. Você já se pergu ntou por que isso acontece? Talvez você já tenha ouvido falar sobre o fato de que cachorros transpiram pela língua, ou sobre cobras e lagartos serem animais de “sangue frio”, e com certeza já viu algum animal, seja lagarto, gato ou ser humano descansando em sombras frescas em dias de sol intenso. Mas para qu ê? Claro que isso gera uma sensação de bem estar, como se você tivesse escapado de algum mal, como se aquela sombra debaixo da árvore tivesse acabado de salvar a sua vida. Vamos ver que esse bem estar pode ser propiciado por algo maior, mais complexo e...